Abril 2022

     Neste momento estou numa praça. Faço contas e aguardo o horário de buscar a minha cria na escola. Este é o modo menos cansativo e mais barato de realizar esta tarefa. No vídeo o guru me diz para não focar no problema, mas sim no sonho.. focar onde vejo a minha luz brilhar. Qual luz? - eu sempre me pergunto "Mas que luz?!". Na esquina de qual fracasso eu a perdi? Desilusões são atrapas  egoicas..Talvez. toca 'Besame mucho' versão instrumental no saxofone, ao vivo, do outro lado da praça. me distraio. 

    Penso se é mesmo verdade que para curar uma dor precisamos, por um momento, fingir que ela já não dói. Naquele mesmo esquema de fingir que estamos dormindo para que então possamos adormecer verdadeiramente.  uma bebê crescida corre e abraça o pai.  Não imagino o que essa separação irá causar na relação da minha bebê crescida com ele. O pai dela. O agora "pai da minha filha" já foi o "amor da minha vida". mesmo? Só sei que foi sim, um grande encanto. O certo. 

    Rememorar o começo também faz parte do fim.

    A nostalgia possui lentes rosadas. Romantiza tudo o que se passou e hipervaloriza cada instante de alegria. Por menor que seja. Nunca Mais! diz o corvo poeta.  Após uma pausa percebo como tem cachorros nesta praça... Cachorros e crianças quase que em mesma quantidade. Curioso como aprendemos a respeitar e interpretar os sentimentos de seres que não falam. talvez seja até mesmo por isso. Mas ainda não aprendemos a respeitar nossos próprios filhotes. toca Steve Wonder lá longe.. nunca fui fã.. mas agora ele me leva para Botafogo toda vez que o escuto. 

    As contas, a luz no rosto durante toda a noite, o vento frio da espera... Nada disso me faz ressentir e mudar de ideia. Sigo. Sem  planos. Sem sonhos. Sigo por pura inapetência onírica e administrativa. Sigo por fé e poesia (aptidão dos desesperados).

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Hoje este texto veio me dar bom dia. Como um aviso "Chegou o dia. A bebê crescida vai falar". E doeu.